BOLO DE MEL | MADEIRA



‘Bolo de mel’, para um madeirense, é sempre ‘bolo de mel de cana de açúcar’!”

 (João Dionísio, no Prefácio do livro “O Bolo de Mel”, de João José Abreu de Sousa)

 

O Bolo de Mel, de forma redonda e achatada é a mais famosa e antiga iguaria da doçaria madeirense. Devido ao mel de cana-de-açúcar com que é confecionado (e não o mel vulgar), possui uma cor escura, textura consistente e um período de validade de consumo mais alargado. Tem ainda como outros ingredientes frutos secos (amêndoa, nozes, passas de uva), especiarias, vinho da Madeira, erva-doce, laranja.

Segundo a tradição, este bolo deve ser partido usando as próprias mãos e não com faca. Manda ainda a tradição, que o que resta do Bolo de Mel da Madeira do ano anterior seja partido no dia 8 de Dezembro e que também nesta data, dia de Nossa Senhora da Conceição, seja confecionado novo bolo para estar bom no Natal, festa em que é rei na região. Aliás, reza a história que o Bolo de Mel foi criado na Madeira em honra desta festa da família, a começar pela sua preparação, que incentivava a reunião familiar, uma vez que sendo um bolo de difícil confeção exigiria a intervenção de vários elementos da família.

Apesar de existir algum desacordo relativamente à origem do Bolo de Mel da Madeira, em que uns defendem que é resultado da chegada das especiarias depois de descoberto o caminho marítimo para a Índia pelos portugueses e outros, que terá surgido por influência da colónia inglesa na Ilha, mais não sendo do que uma adaptação do tradicional “Christmas Pudding” britânico, outra versão, que parece a mais verosímil, reporta a sua origem aos Conventos de Santa Clara e da Encarnação, nos tempos áureos da produção de açúcar e de mel-de-cana, nas plantações de cana sacarina introduzida na Ilha da Madeira em 1425 (mais tarde propagada a Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Brasil e Ilhas Canárias).

A partir do século XIX a Ilha da Madeira viveu da riqueza da cana-de-açúcar e da produção de açúcar e nesta altura as freiras do Convento de Santa Clara da Madeira introduzem a soda na receita de Bolo de Mel que já vem do século XV, o que fez passar o tempo de fermentação de três para dois dias. Já no século XX acrescentou-se o leite.

Com as transformações sociais e tecnológicas verificou-se nas últimas décadas uma menor dependência do sector primário, pelo que actualmente a cana-de-açúcar é produzida em pequena escala na região mas continua exclusiva para a produção de aguardente de cana e do ingrediente básico deste bolo, o mel-de-cana.

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