LEITÃO DE NEGRAIS | NEGRAIS

 

Leitão de Negrais, um prato típico português, apresentado inteiro, assado até a pele ficar crocante e dourada, servido em uma travessa decorativa, com acompanhamento de batatas e salada, representando a rica tradição culinária da região de Negrais, conhecido por seu sabor suculento e temperos especiais
Fotografias: visitsintrra.travel. Fotografia do lado direito: Negrais: venda de leitão em cestos de vime, em 1906 (foto: https://www.geocaching.com/geocache/GC50QRX)

Uma das lendas de Negrais fala de um rapaz cuja mãe lhe pediu para levar uma porca a passear; depois de entrarem por um lado de um túnel quando saíram do outro – um bom bocado à frente, já em Oulelas – já tinha aquela ficado prenhe e já havia concebido uma série de porquinhos.”

[Miguel Boim, “Afonso VI e os Porquinhos de Negrais” – Jornal de Sintra, Maio 2016]


Em Negrais, localidade do concelho de Sintra, crê-se que as origens da criação e confeção de leitões remontam à Idade Média. À época, o leitão, a par das aves de capoeira, do coelho e do borrego, já fazia parte das ementas dos banquetes festivos familiares desta região saloia. No entanto, os registos dos “assadores de leitoas” datam do século XIX, em que alguns dos locais eram ao mesmo tempo agricultores, tosquiadores de gado, cavadores e assadores que, para compor o rendimento familiar, vinham vender (ou melhor, regatear o preço com os compradores) os seus leitões assados, de porta em porta e nas feiras da região de Lisboa, como era o caso da de Nossa Sr.ª do Cabo Espichel, Nossa Sr.ª da Nazaré, Nossa Sr.ª da Luz, Feira das Mercês, Feira de Caneças e Nossa Sr.ª da Rocha. Assim foi aumentando o número de clientes, com o produto acondicionado em cestos de vime e tecido branco de algodão e a ser transportado para Lisboa, através da linha ferroviária do Oeste, passando mais tarde a ser também distribuído em diversos restaurantes, o que fez com que também aumentasse em Negrais a quantidade de assadores de leitão / “leitoeiros”, tornando-se este produto imagem de marca da zona.

Inicialmente, grande parte dos leitões vivos eram comprados na Feira da Malveira e depois de adquiridos, engordados. Quando atingiam o peso desejado eram abatidos, esviscerados, lavados, salgados e temperados com um molho composto por alho e pimenta, seguindo para serem assados, espalmados, em forno de lenha dos carvalhos da região, bem quente, durante 2h00 a 2h30, consoante o tamanho do reco. As miudezas eram aproveitadas para o arroz ou para cozer juntamente com batatas.

Atualmente, ainda um negócio maioritariamente familiar, ao longo de todo o processo produtivo, os leitões são abatidos ao atingirem o peso de 6 a 12 kg, igualmente condimentados e assados em forno de lenha, conforme transmissão de geração para geração, mas tendo as instalações e os materiais utilizados evoluído para fazer face à procura crescente. O transporte em cestas de vime deu lugar ao embalamento em caixas de cartão e a comercialização passou a dominar nos muitos restaurantes em Negrais, em casamentos e outros banquetes, em festas e mercados de Sintra, ou em supermercados mais distantes. Inclusivamente, nos dias de hoje realiza-se, anualmente, o Festival do Leitão Assado de Negrais, um ambiente de festa que dura três dias no mês de julho.

Muitos questionam qual a principal diferença entre o Leitão de Negrais e o também famoso Leitão da Bairrada: em Negrais, a confeção dá-se através de golpe ao longo das vértebras, para que o leitão asse aberto e espalmado no forno, enquanto na região da Bairrada o animal permanece fechado e é assado em espeto. Em comum, ambos dão notoriedade às respetivas localidades.



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