SOPA CARAMELA | PINHAL NOVO

Sopa Caramela de Pinhal Novo, um prato tradicional que combina feijão catarino, repolho, batata, cenoura, chouriço e toucinho, servido em uma tigela, representando a herança cultural dos 'Caramelos' que migraram para a região
Fotografias: visitpalmela.pt e Wikipedia


“Os Caramelos eram bons trabalhadores, produziam mais e melhor do que os naturais desta região, sendo mais remunerados pelos patrões, trazendo um certo descontentamento pelos restantes trabalhadores.”

(in: https://r-etnograficobarracheia.pt/ )

 

Pelas décadas de 40 e 50 do século XIX, muitos trabalhadores rurais oriundos da Beira Litoral e do Baixo Mondego, deslocavam-se sazonalmente para as terras dos concelhos de Palmela, Moita e Montijo, em especial para a atual freguesia do Pinhal Novo (concelho de Palmela), a juntar aos seus patrícios, que aqui iam chegando desde finais do século XVIII. Vinham à procura de melhores condições de vida, em resposta a necessidades de mão de obra agrícola a sul e/ou porque parte deles provinha de uma zona mais arenosa e pouco propícia à agricultura, entre Leiria e Aveiro, com pouco rendimento de sobrevivência. Autodenominavam-se de “Caramelos de ir e vir”, já que a princípio migravam por uns nove meses, mas depois, quando começaram a arrendar casa e horta nesta região de acolhimento, também ficaram conhecidos como “Caramelos de ficar”. Por isso, a zona do Pinhal Novo ficou conhecida até aos dias de hoje como a “zona dos Caramelos”.

Mais especificamente, atribui-se o termo “Caramelo” por derivação da designação dada aos que eram provenientes do Caramulo, os “caramuleiros”, gente com hábitos e costumes regidos pelo valor do trabalho e por princípios religiosos. Com a mudança de um lado para o outro do país e para matar saudades de casa, estas pessoas trouxeram também consigo hábitos alimentares dos seus locais de origem que, dadas as provações, eram habitualmente baseados no que a horta lhes dava e, para quem os tinha, em carnes provenientes da matança do porco. Assim nasceu a Sopa Caramela, a que inicialmente chamaram de “sopa de feijão com hortaliça” e foi sendo enriquecida com mais ingredientes, à medida que as condições de vida melhoravam.

Tradicionalmente, a Sopa Caramela leva feijão catarino ou manteiga, repolho, couve, batata, nabo, cenoura, cebola, dentes de alho, folha de louro, chouriço de carne, toucinho e outras carnes gordas do porco. Tudo temperado com azeite e sal, a que se junta massa tipo cotovelinhos, para tornar este prato, sobretudo consumido no Inverno, ainda mais substancial.

Atualmente um símbolo identitário dos pinhalnovenses e das suas raízes caramelas, esta Sopa tornou-se uma das principais referências gastronómicas locais e parte relevante do património cultural da freguesia. A criação da Confraria da Sopa Caramela, em 2013, veio reforçar a defesa do prato, a preservação da sua história e possibilitar a agregação de valor.

A Junta de Freguesia do Pinhal Novo promove, anualmente, durante alguns dias do mês de maio, uma edição do Mercado Caramelo, onde a Sopa Caramela está ao dispor de todos, residentes e visitantes. Igualmente pode ser apreciada nas festas populares da freguesia e em alguns restaurantes, ao longo do ano.

Ainda que a princípio possa parecer haver semelhanças com outras sopas tradicionais portuguesas, também encorpadas para sustento da força de trabalho, a Sopa Caramela distingue-se pela origem que lhe está associada, pela superior aposta nos produtos hortícolas ou por uma maior leveza de textura, apesar de robusta.


 

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