SOPA CARAMELA | PINHAL NOVO
“Os Caramelos eram bons trabalhadores,
produziam mais e melhor do que os naturais desta região, sendo mais remunerados
pelos patrões, trazendo um certo descontentamento pelos restantes trabalhadores.”
(in: https://r-etnograficobarracheia.pt/ )
Pelas décadas de 40
e 50 do século XIX, muitos trabalhadores rurais oriundos da Beira Litoral e do
Baixo Mondego, deslocavam-se sazonalmente para as terras dos concelhos de
Palmela, Moita e Montijo, em especial para a atual freguesia do Pinhal Novo
(concelho de Palmela), a juntar aos seus patrícios, que aqui iam chegando desde
finais do século XVIII. Vinham à procura de melhores condições de vida, em
resposta a necessidades de mão de obra agrícola a sul e/ou porque parte deles
provinha de uma zona mais arenosa e pouco propícia à agricultura, entre Leiria
e Aveiro, com pouco rendimento de sobrevivência. Autodenominavam-se de
“Caramelos de ir e vir”, já que a princípio migravam por uns nove meses, mas
depois, quando começaram a arrendar casa e horta nesta região de acolhimento,
também ficaram conhecidos como “Caramelos de ficar”. Por isso, a zona do Pinhal
Novo ficou conhecida até aos dias de hoje como a “zona dos Caramelos”.
Mais
especificamente, atribui-se o termo “Caramelo” por derivação da designação dada
aos que eram provenientes do Caramulo, os “caramuleiros”, gente com hábitos e
costumes regidos pelo valor do trabalho e por princípios religiosos. Com a
mudança de um lado para o outro do país e para matar saudades de casa, estas
pessoas trouxeram também consigo hábitos alimentares dos seus locais de origem que,
dadas as provações, eram habitualmente baseados no que a horta lhes dava e,
para quem os tinha, em carnes provenientes da matança do porco. Assim nasceu a
Sopa Caramela, a que inicialmente chamaram de “sopa de feijão com hortaliça” e foi
sendo enriquecida com mais ingredientes, à medida que as condições de vida
melhoravam.
Tradicionalmente, a
Sopa Caramela leva feijão catarino ou manteiga, repolho, couve, batata, nabo,
cenoura, cebola, dentes de alho, folha de louro, chouriço de carne, toucinho e
outras carnes gordas do porco. Tudo temperado com azeite e sal, a que se junta
massa tipo cotovelinhos, para tornar este prato, sobretudo consumido no
Inverno, ainda mais substancial.
Atualmente um
símbolo identitário dos pinhalnovenses e das suas raízes caramelas, esta Sopa
tornou-se uma das principais referências gastronómicas locais e parte relevante
do património cultural da freguesia. A criação da Confraria da Sopa Caramela,
em 2013, veio reforçar a defesa do prato, a preservação da sua história e
possibilitar a agregação de valor.
A Junta de
Freguesia do Pinhal Novo promove, anualmente, durante alguns dias do mês de
maio, uma edição do Mercado Caramelo, onde a Sopa Caramela está ao dispor de
todos, residentes e visitantes. Igualmente pode ser apreciada nas festas
populares da freguesia e em alguns restaurantes, ao longo do ano.
Ainda que a
princípio possa parecer haver semelhanças com outras sopas tradicionais
portuguesas, também encorpadas para sustento da força de trabalho, a Sopa
Caramela distingue-se pela origem que lhe está associada, pela superior aposta
nos produtos hortícolas ou por uma maior leveza de textura, apesar de robusta.
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