CARALHOTAS DE ALMEIRIM | ALMEIRIM

 

Caralhotas de Almeirim, um pão típico da região ribatejana, arredondado com cerca de 15 cm de diâmetro, apresentando uma côdea estaladiça e miolo rústico, feito com farinha de trigo, água, sal e fermento, cozido em forno a lenha, simbolizando a tradição e o aproveitamento dos restos de massa na culinária local
Fotografias: andarilho.pt e O Almeirinense – Quinzenário Regionalista

O verdadeiro pão de Almeirim não é amassado com máquinas. É com braços. Os antigos comiam este pão. Estavam uma semana inteira com este pão tapado, abafado, naquele tempo era muita a fome. O meu pão, por exemplo, continua à antiga. É amassado à mão, fica todo cheio por dentro, sem buracos. Continuo à antiga enquanto puder.”

(D. Emília, padeira mais popular de Almeirim)


Na linguagem popular dos almeirinenses, chama-se “caralhotas” aos borbotos das camisolas de lã. Mas como é que surge a analogia com o pão? Segundo a tradição oral, por finais do século XIX e inícios do século XX, uma senhora estava a cozer pão enquanto uma das filhas raspou o alguidar de barro e, com os restos da massa, fez uma bola que lançou para dentro do forno. À pergunta da mãe sobre o que estava a fazer, respondeu “uma caralhota, mãe!”.

As Caralhotas de Almeirim são hoje o pão típico desta região ribatejana.

Arredondadas, com um diâmetro médio de 15 cm, o miolo prima por ser cheio e rústico e a côdea estaladiça, resultado de um trabalho totalmente manual da amassadura, até a massa ficar elástica, começar a fazer bolhas e despegar-se do alguidar que tem de ser de barro.

Os ingredientes todos misturados e amassados são a farinha de trigo, o fermento de padeiro ou massa que ficou de véspera a levedar (o “pão acrescentado”), água e sal. Esta massa é levedada ao som de benzeduras e dizeres populares repetidos ao longo dos tempos, para trazer sorte e garantir que o pão cresça. Depois é cozida durante 10 a 15 minutos, nos fornos tradicionais a lenha de eucalipto, pinho e sobro, que existirão em Almeirim desde o século XVI.

A Caralhota aparece assim como uma forma de não desperdiçar restos, sobretudo numa época em que eram escassos os recursos, com o pão a ser feito em casa semanalmente, com o cereal que cada um cultivava e guardado o resto da semana em sacos de pano. Por outro lado, não aproveitar esses restos de massa era quase despautério, porque “o pão foi Deus que deu” para alimentar a família.

Com o aumento do número de restaurantes em Almeirim, derivado à fama de outras iguarias gastronómicas do concelho, as Caralhotas passaram também a ser uma das imagens de marca da terra, ao servir de complemento para acompanhar a Sopa da Pedra, o que fez disparar a venda deste pão. Igualmente, o próprio nome vem suscitando a curiosidade de muitos forasteiros que são grande parte da clientela nas padarias da terra ou em feiras onde o concelho está representado. Em suma, referência da gastronomia local e com mérito patrimonial, as Caralhotas de Almeirim acabaram por ser também um produto essencial no desenvolvimento socioeconómico do município.

Desde 2020 (conforme Despacho nº 7814/2020, de 7 de agosto), as Caralhotas de Almeirim passaram a ter garantia de qualidade diferenciada através da proteção à denominação e indicação geográfica circunscrita a este concelho.

Atualmente e em consequência da procura verificada, para além do pão arredondado que permanece o característico, passou a ser também possível encontrar Caralhotas na variante recheada com sabores de outros ingredientes regionais a gosto, adocicados ou salgados.

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