BOLEIMA | ALTO ALENTEJO

 

Fotografias: Jornal Expresso e Enoturismo

“Ainda trago um gosto a trigo atrás de mim

Que se me agarrou à alma ao nascer

Sou como um carreiro longe de ter fim

Como quem ceifou searas sem saber (…)”

 

[in: Ainda trago um gosto a trigo – toada do Alentejo]

  

A Boleima nasceu dos restos da massa do pão que ficavam colados ao fundo e às paredes do alguidar, após a amassadura e fermentação deste. Daí que em alguns locais do alto Alentejo, particularmente, no distrito de Portalegre, esta iguaria seja popularmente conhecida como “bolo do fundo do alguidar”.

Numa versão lendária, atribui-se os começos da Boleima ao pão ázimo consumido pelos judeus. Este pão, tal como a Boleima, não levava fermento por a fuga daquele povo de Israel ter sido tão repentina que nem se ponderou haver tempo para levedar.

Assim, a Boleima não é um doce habitual de pastelaria, muito menos de origem conventual (desde logo, não leva ovos), mas é igualmente um ícone nesta região do país. Considerada um bolo do povo é feita a partir de ingredientes mais modestos e de preparação mais facilitada, aproveitando-se a cozedura do pão. Na Boleima tradicional (ou “dos pobres”), para além do aproveitamento da massa de pão de trigo, utiliza-se ainda açúcar amarelo ou loiro, azeite, canela e banha para untar o tabuleiro. Apresenta-se sob a forma retangular ou quadrada e com cor acastanhada ou dourada.

Contudo, mais recentemente, começou a ser acrescentada maçã ou nozes à receita costumeira, contornando-se assim alguma secura da iguaria e surgindo a Boleima de Maçã (mais conhecida em Alpalhão, Avis e em Castelo de Vide) e a Boleima de Nozes. Uma vez dado o mote, sucedeu-se ainda a Boleima Folhada (Portalegre).

Mais pobre ou mais rica, a Boleima pode ser consumida diariamente, mas é na Páscoa que reina nas mesas desta região. 


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