TORTAS DE ERVA PATINHA | ILHA DAS FLORES, AÇORES
“Aves do mar que
em ronda lenta
Giram no ar, à
ventania,
Gritam na tarde
macilenta
A sua bárbara
alegria.”
[in: Ar de Inverno,
de Roberto Mesquita, poeta da Ilha das Flores]
A Erva-patinha refere-se ao nome comum dado a várias
espécies de algas marinhas com alguns talos, pertencentes aos géneros Ulva e
Porphyra, que são colhidas entre os meses de janeiro e março (meses com maior
agitação marítima), nas rochas junto à costa. Tem um contorno circular
ondulado, podendo atingir comprimentos de 5 a 17 cm.
De grande valor nutritivo, a nível mineral e proteico,
especialmente rica em provitamina A, vitamina B12, ómega-3 e ómega 6, a
erva-patinha, de cor preta, tem sabor intenso a mar e a marisco, aroma
característico, textura suave e boa digestibilidade. Na forma natural (sem
frituras) recomenda-se o consumo para proteger e nutrir a pele e as mucosas,
assim como para melhorar problemas de visão noturna ou prevenir acidentes
cardiovasculares. Não será, portanto, de estranhar tratar-se de uma alga muito
apreciada e de elevado preço.
A erva-patinha utiliza-se regularmente na gastronomia da
Ilha das Flores, bem como da Ilha do Corvo, aqui com a designação de Erva do
Calhau. Sobretudo até meados do século XX integrava a dieta destas populações
e, dada a acessibilidade na coleta e a forma simples como é cozinhada era
conhecida como “o prato dos pobres”.
Este prato tradicional da Ilha das Flores serve-se em forma
de torta crocante, como se de uma omelete corrente ou de uma patanisca se
tratasse. Na confeção mais simples, para além da alga, adiciona-se salsa, alho
(para alguns também cebola) e ovo para ligar o preparado, antes de serem fritas
em óleo bem quente ou em banha de porco. O costume dita que, enquanto refeição,
se acompanhe esta iguaria com inhame, batata-doce roxa assada e/ou arroz. Como
petisco, as Tortas de Erva Patinha são tradicionalmente servidas com pão de
milho.
Um Inverno rigoroso, com maior agitação marítima para que esta alga apareça em quantidade, é meio caminho para que locais e forasteiros que visitam a ilha nesta altura se rendam ao paladar de mais uma iguaria sazonal.
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