GANCHA DE SÃO BRÁS | VILA REAL
“Eu vou ao São
Brás
de cu para trás
buscar uma gancha
para o meu rapaz.
Eu vou ao São
Brás
de cu para a
frente
buscar uma gancha
para a minha
gente.
Eu vou ao São
Brás
de cu para o lado
buscar uma gancha
para o meu
namorado.”
[Cantilena das
raparigas, no percurso para a capela de S. Brás, em Vila Velha, concelho de
Vila Real, no dia 3 de fevereiro]
Como partilhado na
última publicação deste blogue, em cada dia 13 de dezembro, as raparigas e
mulheres do concelho de Vila Real, em Trás-os-Montes, oferecem o Pito aos
rapazes e homens da terra, por si escolhidos. A sequela deste ritual chega
depois, a 3 de fevereiro, quando os eleitos retribuem a oferta com a Gancha.
Segundo o
investigador da história da cidade de Vila Real, Elísio Neves, a Gancha de São
Brás já é referenciada desde o final do séc. XIX. Tem este nome por ser
entregue no dia do Santo, padroeiro dos males da garganta. É um doce popular em
forma de bengala, que simboliza o báculo bispal com que, segundo a lenda, São
Brás salvou uma criança que sufocava com uma espinha. Atualmente, dado o ritual
antecedente do dia de Santa Luzia, o simbolismo (fálico) desta “gancha”,
celebrado em romaria remete, por um lado, para uma conotação namoradeira mais provocante
e associada aos órgãos genitais do homem e da mulher e por outro lado, para
referências reprodutivas associadas à Primavera que chegará no mês seguinte ao
do dia de São Brás.
A Gancha de São
Brás é confecionada, essencialmente, com água e açúcar, resultando um caramelo
e esse rebuçado vai sendo moldado em forma de bengala que é depois enfeitada
com papel colorido. Às vezes há quem acrescente mel e ervas aromáticas a estes
dois ingredientes. O tamanho da iguaria também pode variar, havendo algumas que
atingem um metro.
Este doce só é
vendido em Vila Real na altura das festas em honra de São Brás, pelas
conhecidas “vendedoras das ganchas”, que se reúnem junto à capela de Santo
António e à igreja de São Dinis (dentro da qual se situa a capela de São Brás).
Já a expressão
popular “de cu para trás” ou “de cu ó pa trás”, que as mulheres
das várias idades recitam no caminho para a igreja em Vila Velha não terá
conotação mais brejeira, mas parece recuperar um ritual antigo praticado pelas
mães que levavam os filhos a dar voltas à capela, às arrecuas e sem abrirem a
boca, para prevenirem ou tratarem males da garganta.
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