PITOS DE SANTA LUZIA | VILA REAL
“É
13 de dezembro, é dia de dar o pito!”
Provar os Pitos de
Santa Luzia é uma das tradições mais populares do concelho de Vila Real, em Trás-os-Montes
e mote para festa alusiva no calendário de eventos da cidade.
Não se pode dizer
que se trate de uma iguaria conventual como muitas, porque os ingredientes não
são todos os convencionais nem de textura fina, no entanto, os Pitos parece
terem nascido num convento.
Reza a história que
havia uma mulher, de nome Maria Ermelinda Correia, nascida em Vila Nova, que
era tão gulosa por doces a ponto de a família achar que uma forma eficaz de
transformar este pecado da gula em virtude seria enviá-la para clausura no
Convento de Santa Clara, em Vila Real. Contudo, a abstinência que lhe foi
imposta, por restrição às iguarias confecionadas no Convento não surtiram
grande efeito.
Durante o seu
percurso para noviça, parece que Maria Ermelinda se tornou devota de Santa
Luzia, padroeira das doenças da vista e assistia doentes com problemas nos
olhos. Como a Madre Superiora a proibia de consumir doces, a noviça decidiu
criar um e, para confundir as religiosas, fez da pouca farinha a que tinha
acesso uma massa com formato semelhante ao dos quadrados de pano cru dos pachos
de papas de linhaça, dobrados nas pontas, como os que tratava feridas,
contusões e inchaços nos olhos dos doentes recebidos pela Ordem religiosa. O
recheio, não sendo de papas de linhaça, mantinha uma cor semelhante a estas,
pois era o resultado do cibo de açúcar a que tinha direito e guardado pela
noviça para fazer uma compota de calondro (abóbora) e canela. Se alguém a
viesse questionar sobre o motivo das cascas da abóbora por perto, respondia que
preparava o caldo ou a alimentação para o gado. Perante a Madre Superiora,
dizia: “São pachos de linhaça Irmã Madre… para os meus doentinhos que amanhã
virão!” E, à noite, no isolamento da sua cela, lá ia satisfazendo o desejo por
doces, ainda que não considerasse tal como pecado da gula uma vez que tinha
ouvido dizer, que “do que não se vê não se peca. “
Nos dias de hoje,
estes pastéis com cerca de 6 cm de lado e 3 cm de altura, mantém a massa em
formato quadrado dobrada como se fosse uma trouxa de roupa e o recheio de uma
mistura feita com abóbora (não por acaso, um produto da época do Outono e
Inverno), açúcar, canela e pimenta.
Em cada ano, a 13
de dezembro, Dia de Santa Luzia, padroeira dos doentes com problemas nos olhos,
novos e velhos vão mantendo a tradição de ir à capela de Santa Luzia da localidade
próxima de Vila Nova, para cumprirem com dois rituais: provarem o Pito de Santa
Luzia e as raparigas oferecerem um Pito aos rapazes – que semanas depois, a 3
de fevereiro, Dia de São Brás (padroeiro das doenças da garganta) estes lhes
devolvem o presente sob a forma de outro doce regional, as Ganchas. Há quem
diga, a propósito, que mais que um doce, os Pitos passaram a ser
tradicionalmente pagãos e objeto de sedução amorosa, que simultaneamente adoça
e apimenta relações entre casais e futuros casais, desde há gerações.
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