BOLO-REI


 
Ora, morto este símbolo (o Rei), o bolo tinha de desaparecer ou tomar o expediente de se mascarar para evitar a guerra que lhe podia ser feita.” [in: Diário de Notícias, 1910]
 
O Bolo-Rei, de forma redonda com um grande buraco no centro lembrando uma coroa pintalgada de frutos secos e cristalizados é quase presença obrigatória em todas as mesas, durante a quadra natalícia.
Reza a lenda que quando os três Reis Magos foram visitar o Menino Jesus, já perto da gruta estes não se decidiam sobre qual o primeiro a oferecer um presente. Um artesão que por ali passava assistiu à conversa e propôs uma solução: ele faria um bolo e meteria uma fava na massa. Depois do bolo cozido repartiu-o em três partes e o Rei Mago a quem sairia a fava seria o primeiro a ofertar o Menino. Dada a finalidade e o momento em que foi criado, este bolo ficou assim conhecido por Bolo-Rei e passou a ser consumido entre o Natal e o Dia de Reis.
Outros imaginam que através da forma do bolo e do brilho das suas frutas cristalizadas, o doce alude aos presentes oferecidos pelos Reis Magos do Oriente ao Menino: ouro (a côdea), incenso (o aroma) e mirra (as frutas secas e cristalizadas).
Conta-se ainda que nos banquetes, os Romanos procediam à eleição do rei da festa, que consistia em escolher entre si um rei tirando-o à sorte com favas, por isso designado por vezes também “rei da fava”. A Igreja Católica aproveitou o facto de este jogo ser característico no mês de Dezembro e decidiu relacioná-lo com a Natividade e com a Epifania, ou seja, com os dias 25 de Dezembro e 6 de Janeiro.
Uma vez que o Dia de Reis foi desde cedo celebrado na corte dos reis de França, remontará a este país e ao reinado de Luís XIV a origem do Bolo-Rei (Gâteau des Rois). Em Portugal foi popularizado no século XIX, através de uma receita vinda do sul do Loire e não imitando o Gâteau feito de massa folhada recheada de creme, de Paris.
Entre nós e tanto quanto se sabe, a primeira casa que vendeu Bolo-Rei foi a Confeitaria Nacional, em Lisboa, por volta de 1870. Até que com a proclamação da República, a 5 de Outubro de 1910, a existência desta iguaria ficou em risco, dada a sua designação e durante algum tempo passou a chamar-se “Bolo de Natal” ou “Bolo de Ano Novo”. Radicalismos à parte, este bolo voltou a receber o nome por que todos sempre o conheceram e a manter o seu sucesso.
O simbolismo da fava no Bolo-Rei representa o lado negativo, uma espécie de azar, tendo quem a encontrar de assumir o pagamento do próximo bolo. Por sua vez o brinde igualmente colocado no bolo tinha como finalidade presentear os convidados com que se partilhava o doce. Esse brinde já passou por ser pequenas adivinhas cuja recompensa seria meia libra de ouro, ou uma moeda de ouro e com o decorrer do tempo, um pequeno objecto metálico, sem valor que não o do símbolo. Todavia, a legislação comunitária proibiu a introdução da fava ou do brinde no interior da massa de bolos comercializados, por alegados motivos de segurança.
Nos últimos anos, o "Bolo-Rainha" tem vindo a popularizar-se, sobretudo entre aqueles que não apreciam fruta cristalizada.
 
Bolo-Rei e Bolo-Rainha

250 gr de farinha de trigo sem fermento
100 gr de massa de pão
1 colher de sopa de sal
4 ovos
Raspa de casca de 1 limão
150 gr de açúcar
100 gr de manteiga
150 gr de frutos secos + cristalizados (pinhões, passas de uva, nozes + cereja, pera, abóbora, laranja, etc)
1 cálice de Vinho do Porto
Farinha para amassar
1 gema para pincelar
1 fava seca
1 brinde embrulhado
 
De véspera, peneira-se a farinha para uma tigela, faz-se uma cova no meio onde se deita a massa de pão e o sal. Ligam-se estes dois elementos amassando. Juntam-se depois os ovos um a um, à temperatura ambiente, amassando, a raspa do limão e o açúcar. Sempre que necessário polvilha-se com farinha peneirada e em pequenas quantidades.
Tem-se a manteiga batida em creme e junta-se à massa, a pouco e pouco, amassando sempre. No final, a massa deve ficar mole. Tapa-se com um pano, embrulha-se com um cobertor e deixa-se levedar até ao dia seguinte.
Picam-se os frutos secos grosseiramente e põem-se parte deles de molho no Vinho do Porto. No dia seguinte juntam-se os frutos à massa, amassando ligeiramente. Divide-se então a massa em dois bocados que se moldam em bola e coloca-se cada uma no seu tabuleiro untado e ligeiramente polvilhado. À massa que será para Bolo-Rei introduz-se a fava e o presentinho embrulhado, em locais diferentes. Introduzem-se os dedos indicadores no centro das bolas e, rodando a massa, alarga-se o buraco formando uma coroa. Deixa-se a massa crescer novamente, durante cerca de 1 hora.
Pincelam-se os bolos com a gema de ovo diluída num pouco de água e leva-se a cozer, cada bolo, em forno médio (180º a 190º), até estar dourado. A meio da cozedura enfeita-se um dos bolos (o que serve para Bolo-Rei) com as frutas cristalizadas e açúcar em pedra e no Bolo-Rainha com os restantes frutos secos.

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