PASTEL DE TENTÚGAL




“Para Tentúgal não tem nada que errar. É ir direito pela estrada de Coimbra, há um desvio, está logo lá (…) confessa-se aqui um pecado de gula, para ver se tornam a saber-lhe tão bem os divinos pastéis que comeu encostado à Torre dos Sinos, fazendo da mão esquerda guardanapo para não perder migalha”.
[José Saramago, “Viagem a Portugal”, 1984]

Tendo como matérias-primas a farinha de trigo, água, gema de ovo, ovo, açúcar, gordura, canela e amêndoa, o Pastel de Tentúgal é (mais) um doce conventual cuja área geográfica de produção se circunscreve à vila de Tentúgal, no concelho de Montemor-o-Velho, distrito de Coimbra.
A forma mais comum como se apresenta revela um pastel de massa folhada rectangular com uma “crista” em cada uma das extremidades, de cor entre o amarelo palha e o amarelo tostado e polvilhado, ou não, com açúcar em pó.
As características do Pastel de Tentúgal encontram-se no folhado fino e estaladiço e no recheio. A massa é confecionada com farinha e água, esticada o máximo possível (para se obter uma textura fina, quase transparente) num estrado de madeira no chão coberto com lençóis brancos. Depois é seca à temperatura ambiente ou com a ajuda de ventoinhas ou de maçarico para acelerar o processo de secagem em dias mais húmidos e finalmente a massa é cortada em forma de círculos, recolhida manualmente e colocada em tabuleiros e coberta com um pano branco seco, sendo que por cima deste pano é colocado outro, mas húmido, para evitar que a massa seque. O objectivo é que a massa apresente uma textura semelhante a papel, “de modo a que se consiga ler uma carta do outro lado”, conforme gracejavam algumas antigas doceiras. Já o recheio é feito só com ovos, açúcar e água (a inclusão da amêndoa no recheio aplica-se a estes pastéis em forma de meia lua), razão pela qual se costuma dizer que o Pastel de Tentúgal é o doce “mais pobre de ingredientes e mais fino no paladar”.
Reza a história que os Pastéis de Tentúgal terão surgido por causa da bondade natalícia de uma freira carmelita do Convento de Nossa Senhora da Natividade que, em finais do século XVI, presenteando os meninos da terra com iguarias, resolveu experimentar rechear a massa muito fina com doce de ovos. Estes requintados presentes eram, igualmente, oferecidos a bem feitores do Convento das Carmelitas, assim como a indivíduos da alta sociedade portuguesa. Inicialmente designados “Pastéis do Convento”, começaram a ser produzidos no seu exterior aquando do fim das congregações religiosas, no século XIX.
Fora das instalações conventuais os Pastéis de Tentúgal popularizaram-se, devido à receita ter passado à proprietária de uma hospedaria local até aos anos 50 do século XX, por uma familiar auxiliar no Convento, passando a ser consumidos pelos diferentes estratos sociais, agora com a designação associada ao nome da vila.
A partir da segunda metade do século XX o fabrico dos Pastéis de Tentúgal passou a ser mais industrializado e também, o elemento base da identidade e economia da vila de Tentúgal.

Comentários

Mensagens populares