ALCATRA DA ILHA TERCEIRA | AÇORES
“É no Domingo de Pentecostes (1.º Bodo) e no da Trindade (2.º
Bodo) que os impérios "do monte" (das freguesias rurais)
realizam os bodos. Por isso toda a gente reserva esses dias para visitar todas
as freguesias, dando uma volta completa
à ilha. É o que se chama "correr os Bodos"... Bodos na Terceira”
[O Divino na Terceira]
A Alcatra da
Terceira constitui um ex-libris da cozinha tradicional desta ilha açoriana.
Trata-se de um prato muito aromático de carne de bovino cortada aos cubos, a
que se junta banha, manteiga, água, toucinho fumado, alho, vinho verdelho dos
Biscoitos, cebolas, louro, cravinho, pimenta preta e sal.
Não existem
medidas certas para a Alcatra. Depende de cada um, à medida que se vai provando
o molho.
Tradicionalmente,
a Alcatra da Terceira é confecionada em alguidar de barro vermelho, não
vidrado, alto e ligeiramente afunilado. Este alguidar deverá estar três dias
totalmente submerso em água e depois deixado a escorrer de um dia para o outro.
O preparado vai neste alguidar ao forno a lenha durante 3 horas. O sabor da
Alcatra melhora quando feita na antevéspera e reaquecida uma ou duas vezes,
igualmente no forno a lenha, para que o calor esteja na medida exata e envolva
com lentidão.
Este prato é
tipicamente acompanhado com um pão-de-leite, algo nem completamente doce ou
amargo, que se vai embebendo no molho. Outros farináceos como batatas, inhame e
arroz e até mesmo saladas nunca devem ser utilizados, já que alteram o sabor da
Alcatra.
Como se diz
na Terceira, a Alcatra não é um prato para se comer todos os dias. Contudo, é
(religiosamente) consumida por altura das festas da ilha, ou seja, no culto
cristão ao Divino Espírito Santo, entre o Domingo de Páscoa e o Domingo da
Trindade.
Julga-se que
esta iguaria foi trazida para a Ilha Terceira pelos árabes. Mas os temperos
reportarão às memórias do Mediterrâneo, Europa, Ásia e Américas, pelo que se
pode dizer que a Alcatra é um ponto de encontro de sabores, o Mundo à mesa, em
consequência da passagem das naus dos Descobrimentos pelos Açores, aquando da
vinda da Índia e do Novo Mundo.
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