ARROZ DOCE
“Meu pratinho de arroz
doce
polvilhado de canela;
Era bom mas acabou-se
desde que a vida me trouxe
outros cuidados com ela.(…)”
polvilhado de canela;
Era bom mas acabou-se
desde que a vida me trouxe
outros cuidados com ela.(…)”
[António Gedeão, “Dor de Alma”]
O
Arroz Doce é uma sobremesa tradicional portuguesa, preparada com arroz (de preferência
do tipo Carolino), água, leite, casca de limão, canela em pau e em pó para
polvilhar, açúcar e, na maior parte das receitas, gemas de ovos – visto que há
genericamente duas formas de fazer o Arroz Doce: com gemas e sem gemas (Arroz
Doce Branco).
Poder-se-ia
fazer um roteiro do Arroz Doce nacional, admitindo-lhe algumas variantes que o
tornam único em cada mesa portuguesa. Na zona de Viana do Castelo, no Minho, um
arroz doce macio, cozido em leite, e que é melhorado pela utilização de açúcar
em pó, e algumas gemas de ovo. Ainda noutras zonas do Minho, faz-se um arroz
doce que coze primeiro em água e só depois se junta o leite, após evaporação da
água, mas ao qual não se juntam gemas, ficando menos cremoso. Em Trás-os-Montes,
encontramos um arroz doce mais simples, sem gemas e mais quantidade de arroz do
que de açúcar, e outro para festas especiais, em Freixo de Espada à Cinta,
confecionado com leite, bastante açúcar, gemas e por vezes aromatizado com água
de flor de laranjeira. Na Beira Alta e na Beira Interior, no geral, a tradição
é fazer o arroz doce sem ovo que se deixa em travessa de um dia para o outro e
que tem a particularidade de se poder cortar com uma faca. Na freguesia de Vila
de Rua, Moimenta da Beira faz-se o Arroz Doce de Cesto, colocando o arroz,
depois de confecionado (aqui com as gemas) e ligeiramente arrefecido, num cesto
de verga previamente forrado com uma toalha de linho. Em Coimbra era tradição a
família da noiva participar o casamento às famílias amigas, oferecendo uma travessa
de arroz doce (branco) coberta por toalha de tecido de almalaguês, de produção
artesanal e passados uns dias, a travessa era devolvida com o presente de
casamento. Na Estremadura, encontramos um arroz doce “saloio” cuja quantidade
de açúcar é ligeiramente inferior à de arroz, mas sempre com gemas de ovos. Na
região de Palmela é feito um arroz doce com leite de ovelha que lhe dá um sabor
diferente. No Alentejo voltamos a saborear um arroz doce sem gemas, mas ao qual
se adiciona um pouco de banha de porco, o que dá uma consistência muito cremosa
ao doce.
Embora
sendo uma receita típica do Natal, o nosso Arroz Doce é uma sobremesa que pode ser
servida em qualquer altura do ano. De facto, esta receita fácil, rápida
e económica, que faz parte da infância da maioria de nós, é apreciada no
final de um almoço de família, num lanche, em aniversários, casamentos e
batizados, festas e romarias, nunca esquecendo que os olhos também comem, ao
admirar-se verdadeiras obras de arte do desenho com canela em pó, que dá o
toque final no enfeite do doce.
O
Arroz Doce terá origem turca ou árabe, com expressões singulares em vários
países europeus – por exemplo, na vizinha Espanha, o “arroz com leche”, que terá surgido como aproveitamento de sobras de
arroz cozido das refeições e como tal, diferente do nosso. Em Portugal existem
registos da sua confeção desde o século VI a.C., aquando das invasões mouras,
mas nesta época o arroz era só cozido em leite com melaço. A substituição deste
ingrediente pelo açúcar terá ocorrido com a chegada da cana-de-açúcar, séculos
mais tarde.
A popularidade que o
Arroz Doce atingiu, desde cedo, por cá, fez com que a nossa receita também
passasse a ser conhecida além-fronteiras, designadamente, através de famílias
portuguesas que a levaram para o Brasil, entre 1769 e 1779.
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