LEITÃO DA BAIRRADA
"Vá sempre cedo o
leitão não pode esperar pelo cliente." [Confraria do Leitão da
Bairrada]
Para a
confeção deste prato, tão popular em Portugal, preferencialmente dever-se-á escolher um leitão nascido e criado na
região da Bairrada. As raças Bísaro e Malhado de Alcobaça são as ideais devido
às características do animal. A engenharia
criou, todavia, a “Bairradinus”, que resulta do cruzamento da raça
Bísara com a Camborough. Estes leitões
têm uma proporção de músculo maior que de gordura, originando uma carne pouco
atoucinhada mas muito entremeada, cujo sabor é melhorado com a alimentação
baseada no leite materno (as mães seguem uma alimentação com produtos naturais
da região), para garantir o sabor que já conhecemos à carne. A idade destes
leitões não ultrapassa o mês e meio e o peso varia entre 7 a 8 kg.
O Leitão da Bairrada é temperado com uma mistura bem pisada de alhos,
sal, pimenta, salsa, toucinho, unto (manteiga de porco), louro e azeite.
Seguidamente o animal é enfiado na vara (espeto), actualmente em inox, desde o ânus
até à boca e colocado ao fundo do forno de tijolo previamente aquecido, com
vides ou eucalipto, deixando de fora cerca de 1 metro de vara. Ali ficará a
assar lentamente durante cerca de 2 horas, nas quais vai sendo girado
manualmente.
O
Leitão da Bairrada é normalmente comido quente ou morno para que os seus aromas
fiquem mais intensos. No entanto, é muitas vezes apreciado frio. Não pode é ser
aquecido. Deve ser empratado com a pele sempre virada para cima, sem nunca
sobrepor os pedaços, para que a pele mantenha a textura estaladiça e crocante e
para que o sabor do interior do leitão seja distinto do da pele. Como
acompanhamento do Leitão, e de acordo com a tradição na Bairrada, usa-se a
batata pequena cozida com pele e não a batata frita, que ao ser usada,
promove a mistura da gordura do leitão com a gordura da fritura da batata. O
Leitão da Bairrada é também acompanhado por salada de alface simples, não
excessivamente temperada, para não interferir com o sabor daquele, e por rodelas
de laranja.
Contudo,
o Leitão da Bairrada pode ser também apresentado
inteiro, numa travessa de porcelana com o comprimento necessário. Aí verifica-se
a boa assadura do leitão e procede-se à separação da cabeça do Leitão com um
prato. Se a separação dos dois elementos for fácil, confirma-se que o leitão
está bem assado.
Deve ser
trinchado em pedaços pequenos e ser sempre colocado na travessa com a pele
virada para cima, sem nunca sobrepor os pedaços, para que a gordura não altere
a textura estaladiça da pele. Na travessa deverão constar pedaços das três
partes do leitão: cachaço, costelas e pernil, para assim poderem ser apreciados
e conjugados os três sabores da carne.
É nos
concelhos da Mealhada, Anadia, Águeda, Oliveira do Bairro, Cantanhede e a norte
do concelho de Coimbra, que a tradição do Leitão Assado à Bairrada mais se
confirma.
Desde o tempo
dos romanos que o leitão assado é conhecido. E desde o século XVII que a
criação de suínos se tornou excedentária em terras da Bairrada, levando à sua
comercialização. Um documento de 1743, do Mosteiro de Lorvão ou do Mosteiro da
Vacariça, descreve uma receita que quase coincide com a actual. Já no início do
século XX, a Sociedade de Águas do Luso terá encomendado em Covões (Cantanhede)
leitão assado, mas o arranque na comercialização terá sido levado a cabo por
Álvaro Pedro, que começou por vender, em 1943, sandes de leitão aos
automobilistas que então circulavam na EN1 e em 1949 abre o primeiro
restaurante servindo o grande público de leitão assado à Bairrada. A este
restaurante seguiram-se muitos outros e hoje em dia a EN1 na zona da Mealhada
está dominada pelo cheiro a leitão assado, onde são confecionados
aproximadamente três mil leitões por dia.
Comentários
Enviar um comentário