CABIDELA
“Era um velho jovial, muito caridoso, que vivia há trinta anos naquela
freguesia e passava por ser o melhor cozinheiro da diocese. Todo o clero das
vizinhanças conhecia a sua famosa cabidela”
[Eça de
Queiroz sobre o Abade da Cortegaça, “O Crime do Padre Amaro”]
A
Cabidela é mais um prato tradicional da gastronomia portuguesa, também
escolhido para encontros familiares demorados.
Confecionado
com galinha, trata-se de uma iguaria cuja característica principal advém da
utilização do sangue da ave que é imediatamente guardado numa tijela no momento
do abate, sendo-lhe adicionado vinagre para que não coagule - apesar de a
receita conhecer algumas variações conforme a região, este procedimento verifica-se
sempre. O sangue junta-se ao arroz na altura de o prato ir para a mesa,
mexendo-se bem, o que lhe dá uma tonalidade escura.
Para
além da galinha, respectivo sangue e vinagre, integram a Cabidela azeite,
cebola, dentes de alho, toucinho, arroz, folhas de louro, ramo de carqueja, cominhos,
picantes, sal e água.
De
salientar que na região de Trás-os-Montes e Alto Douro, a Cabidela não leva
arroz mas batatas cozidas e pão, além de que aqui faz-se ainda uma Cabidela de
Miúdos, com baço, bofes, esófago, goela, traqueia, carne de porco e, claro
está, sangue.
Segundo
o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, o termo Cabidela virá da antiga designação portuguesa para os cortes das
patas, asas ou pescoço da ave (os “cabos”). Já a publicação Lello Universal
defende que o nome deriva de um dos ingredientes da receita, o fígado – em
árabe, “kabed”. Outros sugerem que a palavra tem origem angolana, significando
miúdos de aves. Seja como for, cozinhar com sangue é um costume antigo entre
vários povos e em Portugal tal técnica remontará ao século XVI. Já a nossa
derivação para a Cabidela levar-nos-á ao século XVIII, com a eventual adaptação
de uma receita francesa, o “poulet en barbouille”, este preparado originalmente
com vinho tinto e cogumelos.
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