SOPA DO ESPÍRITO SANTO | AÇORES
"A hora de repartir
Que a gente tanto gosta.
Pão, carne, massa e vinho
Temos sempre a mesa posta."
A Sopa
do Espírito Santo (também conhecida como Sopa do Império) é tradicionalmente
servida nos Açores, por ocasião das Festas do Espírito Santo, em particular,
culminando com o almoço do 7º domingo após a Páscoa (ou como regionalmente se
designa cada um destes sete domingos, “dominga”), embora a época de confeção
desta sopa seja alargada do Domingo de Pentecostes a Outubro.
Ainda
que a receita varie de ilha para ilha, no geral a base da Sopa do Espírito
Santo inclui carne de vaca (especialmente abatida para o efeito), galinha,
sangue da vaca coalhado, dentes de alho, cebolas, batata, hortelã, pau de
canela, massa de pimentão, malagueta, repolho, banha ou manteiga, pão de trigo
duro, molho de alcatra e sal. Apresenta-se como um género de açorda com hortelã
e carne desfiada, que é distribuída ao público.
Esta
sopa é sempre servida nas Funções do Espírito Santo, comendo-se a seguir à
alcatra (na Ilha Terceira) com massa sovada ou com pão de mesa, conforme as
freguesias, e acompanhada de vinho de cheiro. A “Função” é uma refeição
ritual servida a um numeroso grupo de convidados por um dos irmãos (o Mordomo),
normalmente como resultado de um voto ou promessa. A Função simboliza a
partilha e é servida na presença das coroas e da bandeira, sendo acompanhada
por cantigas alusivas ao Império do Divino Espírito Santo, normalmente cantadas
por foliões. Actualmente as Funções são servidas em contextos mais cerimoniais,
contudo, mantém o seu carácter público e o recorde de participação numa Função
ocorreu na Rua de São Pedro, em Angra do Heroísmo, nas celebrações do 10 de
Junho de 2000, com a presença do Presidente da República, do Primeiro-Ministro,
do Presidente do Governo dos Açores e de todo o corpo diplomático acreditado em
Portugal, entre outros convidados, envolvendo cerca de 8 mil convivas.
As festas do
Espírito Santo, remontando à Alta Idade Média, têm origem na dádiva de comida aos
pobres pela Rainha Santa Isabel. A rainha possuía um conceito franciscano sobre
a vida: simplicidade, desapego dos bens terrenos, amor aos pobres e fracos e procedia
à distribuição do pão, não como esmola, mas como preâmbulo da instauração na
Terra da era da fraternidade profetizada. Assim, foi por intermédio de D.
Isabel que se começou a praticar em Portugal o culto especial ao Espírito
Santo, designadamente em Tomar e em Alenquer.
A
fraternidade associada às Festas do Espírito Santo foi depois introduzida nos
Açores pelos povoadores, para proteger os habitantes dos desastres naturais –
como por exemplo, as erupções vulcânicas e os sismos – e com esse valor, a
partilha comensal simbolizada pelo pão e por um produto da produção regional
como a carne de vaca, dando lugar à Sopa do Espírito Santo.
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