CAPÃO DE FREAMUNDE


 
“Vai o capão por regalo / Porém eu bem creio já, / Que a vocês lhes pesará / Que o capão não seja galo” – Frei Lucas de Santa Catarina
 
 
Tradicionalmente, os criadores de capão têm preferência pelas estirpes Redbro de pescoço coberto e Redbro de pescoço pelado, dando as primeiras origem a animais mais pesados. As raças tipicamente portuguesas, existentes na zona norte de Portugal podem ser também utilizadas para a produção de Capão de Freamunde.

Enquanto vivo, o Capão de Freamunde possui penugem vermelha a vermelha viva, ausência de crista e de barbilhões, abundante massa muscular no peito, pele e patas amarelas, coxas musculadas e desenvolvidas. Em carcaça a coloração é amarelada, textura macia e pele fina, lisa e com poros pouco marcados. A carne, sem aroma a sangue (fígado, metálico), é tenra e suculenta.

Criado apenas em explorações situadas na área geográfica dos concelhos nortenhos de Paços de Ferreira e em algumas freguesias dos concelhos de Lousada e Paredes, onde as condições de clima ameno são as melhores para a variedade de gramíneas e de vegetação para a alimentação destes animais, o Capão de Freamunde é castrado antes de atingir a maturidade sexual, entre os 3 – 4 meses de idade. Pelo facto das estações do ano influenciarem o desenvolvimento dos testículos, a castração é efectuada no fim da Primavera ou no Verão, pois é quando estes estão mais desenvolvidos. Após este processo, torna-se corpulento, as penas alongam-se e tornam-se sedosas e macias, deixa de cacarejar, passa a não ser agressivo para com outros galos – no entanto, não assume comportamentos femininos, não deixando de “empoleirar”. Após a castração e até à comercialização ou ao abate, os capões permanecem isolados das restantes aves (pintos, frangos, galos, perus, gansos).

Curiosamente, a castração é normalmente realizada, segundo a tradição, por mulheres que, na generalidade, não são criadoras, mas que se dedicam à castração de frangos há vários anos.

A criação do Capão de Freamunde requer algumas condições: número limite de pintos em cada ciclo de produção por exploração, para permitir um melhor controlo individual de capão; cada instalação é apenas povoada com aves da mesma origem, espécie, raça e idade; a partir das 5 semanas, acesso contínuo, desde o amanhecer até ao anoitecer, a espaços ao ar livre e cobertos de vegetação; alimentação à base de milho Zea Mays L, em grão ou moído, que não deve ser inferior a 60% do total da alimentação (a qual deverá ser composta, no mínimo, por 80% de cereais, mesmo quando se recorre a rações comerciais); interdição do uso de antibióticos, antioxidantes, emulsionante, estabilizantes, espessantes, gelificantes, rações ou farinhas de milho provenientes de organismos geneticamente modificados.

O abate é realizado quando atinge 5 – 6 kg de peso vivo (se alimentado com ração comercial, aos 6 – 7 kg de peso vivo), por volta dos 7 meses de idade, já que com idades superiores a carne perde qualidade. O peso da carcaça verifica-se entre os 3 – 4,5 kg.

Na freguesia de Freamunde, concelho de Paços de Ferreira, distrito do Porto vigora, desde longa data, o costume de castrar o galo ainda jovem, para o tornar mais anafado e macio. O acto remontará aos Romanos, após a publicação de uma lei, em 162 a.C. que proibia o consumo de carne de galinha para economizar cereais em grão. Descobriu-se, então, que castrando os frangos eles rapidamente duplicavam de peso, diminuindo assim o consumo de cereais no mesmo período de tempo. Por outro lado, justifica-se esta tradição com a história do Cônsul Romano Caio Cânio que, tendo insónias por causa do cantar madrugador dos galos, conseguiu fazer aprovar no Senado romano uma lei que impedia a existência de aves na urbe romana. Os apreciadores da sua carne conseguiram, sem infringir a lei, manter a existência dos bichos, capando-os, o que lhes impedia o cantar altivo.

Com a romanização de todo o território de Noroeste da Península Ibérica é natural que tradições de criação de galináceos e de entre eles o capão, passasse a ser prática e o saber fazer, transmitido de geração em geração. Dado ser um animal valioso, já na Idade Média o capão passou a servir de moeda de troca e no século XV há registos da realização da Feira dos Capões, nos domínios da Confraria de Santo António, que usufruía com isso de grandes benefícios. No século XVIII o rei D. João V instituiu por provisão régia a referida feira, que se mantém única no país até aos dias de hoje em Freamunde, todos os anos a 13 de Dezembro.

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