CARNE MARINHOA




“Uma esteira de varas, duas juntas de bois para o puxar, (…) A companha salta em terra, jungem-se os bois às cordas, (…) e puxado pelos bois e pelos homens o barco enorme sobe, de proa voltada ao mar, e pronto para nova arremetida. (…) ... Foi diante de um quadro assim que Ferdinand Denis exclamou, assombrado: – Que estranho país é este onde os bois vão lavrar o próprio oceano?!... (…)"
[Raúl Brandão, in "Os Pescadores", 1923]


A Carne Marinhoa é obtida a partir de animais (vitelo/a, vitelão, vaca ou boi) de raça marinhoa e filhos de pais da mesma raça.
A área geográfica de nascimento destes animais, cria, abate, desmancha e acondicionamento das peças circunscreve-se às terras banhadas pelos estuários dos rios Vouga, Cértima e Antuã, distritos de Aveiro e de Coimbra, englobando os concelhos da Murtosa, Estarreja, Aveiro, Albergaria-a-Velha, Vagos, Ílhavo, Oliveira do Bairro, Águeda, Anadia, Mealhada, Sever de Vouga, Ovar, Mira, Cantanhede, Figueira da Foz, Coimbra, Soure e Montemor-o-Velho, bem como algumas freguesias do concelho de Oliveira de Azeméis.
Em regra, estes animais são criados em pastos, regressando aos estábulos só em altura de cheias e os campos ficam alagados ou quando as fêmeas têm de parir as crias.
A cor da carne varia do rosa pálido ao vermelho escuro, de acordo com a idade de abate e a da gordura (que não deve ser excessiva, conforme normas de certificação), do branco ao amarelado. Possui consistência firme e ligeiramente húmida, pelo que se torna apreciada dada a sua suculência e sabor acentuado mas não demasiado intenso.
Nunca devendo ser congelada, a Carne Marinhoa é tradicionalmente apresentada na região em nacos, costeleta e entrecosto, grelhados, assados dentro de assadeiras de barro, em forno de lenha ou guizados e estufados lentamente em lume brando e é uma iguaria local de eleição em festas populares, grandes ajuntamentos, casamentos.
As referências à raça marinhoa remontam ao final do século XIX, altura em que se relacionou estes animais com as marinhas – a região costeira da Beira Litoral - e daí a designação. Nestes locais estes animais eram utilizados para fazer a lavoura do arroz, aproveitando-se o seu porte e força.

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