COZIDO DAS FURNAS | S. MIGUEL, AÇORES
“O Cozido das Furnas faz como que ressoar ecos do
povoamento.”
[Daniel de Sá, escritor e investigador]
O
famoso Cozido das Furnas, preparado em caldeiras vulcânicas, tem um sabor único
e inesquecível. É lentamente cozinhado em panelas enterradas no solo
aproveitando o calor proveniente da atividade vulcânica e prová-lo constitui
uma experiência única para quem visita a ilha de S. Miguel.
Com
efeito, os vários ingredientes – carne de vaca, entremeada, frango, linguiça,
chouriço mouro (enrolado em couve para não rebentar), repolho, cenouras,
batatas, batata-doce, sal – são colocados numa panela grande de alumínio, em
camadas alternadas, sendo a última polvilhada com sal grosso e abafa-se tudo
com folhas de couve. Seguidamente, a panela é muito bem tapada com a respectiva
tampa e um pano e atada, sendo enterrada numa caldeira natural da Lagoa das
Furnas, por sua vez tapada com tampa de madeira e depois com terra, deixando-se
um pedaço da corda que servirá para içar a panela, de fora. A cozedura pelo calor
emanado pela actividade vulcânica leva cerca de 6 a 7 horas. Serve-se colocando
as hortaliças num prato ou travessa e as carnes noutro.
Nesta
paisagem idílica de fumarolas, os buracos já estão feitos no chão. Habitualmente,
no local está também um funcionário da Junta de Freguesia da Furnas, que ajuda
a tapar o buraco onde fica a panela do cozido e entrega uma placa com o número
do buraco onde fica essa panela.
De
notar que os ingredientes que compõem este cozido são regionais e nem todas as
iguarias utilizadas no Continente são consumidas no Cozido das Furnas. Por
exemplo, a tradição açoriana não recorre à farinheira (mas particularmente,
nada obsta a que se prepare à parte, como bom anfitrião, para um convidado apreciador
deste enchido e não habituado à tradição micaelense).
Antigamente
todos os ingredientes eram introduzidos na galinha, que ia inteira para a
panela, só ficando de fora aqueles que não coubessem dentro da ave.
Frequentemente, estes ingredientes também iam para a caldeira não em panelas,
mas dentro de panos brancos, atados em trouxa e metida numa saca atada, que por
sua vez se colocava numa serapilheira - com este processo, o Cozido fica mais
seco, já que os sucos dos alimentos dispersam-se pela terra e com ligeiro sabor
a enxofre. Outro processo a que se recorria nesse tempo era cozer a carne protegida
pela pele do próprio animal ou dentro de uma cabaça, devido à falta de
utensílios apropriados e por não haver barro em São Miguel.
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