MARANHOS DA SERTÃ
“Depois de esfoladas eram cortadas ao
meio, tiravam os presuntos para assar e o pescoço era aproveitado para o cozido
ou para o maranho; as peles da barriga também eram utilizadas nos maranhos; a
versura era para fazer arroz: coração, fígado e bofes; a bochada (estômago)
servia para confeccionar os maranhos” (Sobreira Formosa)
Os
Maranhos constituem um prato tradicional na Sertã e conhecido na região da Beira
Baixa, em geral (concelhos de Mação, Oleiros, Proença-a-Nova, Sertã, Vila de
Rei e Pampilhosa da Serra), antigamente servido só em datas festivas mas
actualmente, em qualquer altura do ano.
Sendo
a receita mais conhecida a da Sertã, esta iguaria consiste num “saco” feito a
partir de bucho de cabra e recheado com mais bucho e carne de cabra com cerca
de um ano ou de ovelha, presunto, toucinho entremeado, chouriço de carne, arroz,
cebola, alho, vinho branco, azeite, sal, cominhos. Este “saco” é depois cozido
com linha e agulha e os maranhos vão a cozer em água a ferver temperada de sal
e muita hortelã. Depois de cozinhado é fatiado e preferencialmente acompanhado
de grelos.
Sobretudo
até 1960, os Maranhos eram consumidos como prato principal ou como
acompanhamento, apenas em dias de festa como o Natal, Páscoa, Festas do
espírito Santo, Santo António, festas do Concelho, festa do 15 de Agosto,
casamentos (ainda que em Proença-a-Nova, os noivos não deviam comer maranhos,
para “não terem uma vida futura enleada”) ou de celebração de trabalhos
agrícolas especiais, aproveitando-se o papel relevante que o gado ovino e
caprino tinha na economia familiar. No concelho da Sertã os Maranhos não podiam
faltar ao jantar, por altura da gramagem do linho e da pisa das castanhas. Já a
opção por carne de cabra ou de carneiro, de cabrito ou de borrego, variava
consoante o cozinheiro(a), a situação económica das famílias, a época do ano.
A
partir da década de 60 do século passado, a aquisição de carne de caprinos ou
de ovinos tornou-se possível em qualquer altura do ano e a confeção do maranho
passou a ser mais frequente. Inclusivamente, é comum assistir-se a pessoas que
vêm de longe para apreciarem esta iguaria.
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