FOLAR DE VALPAÇOS | TRÁS-OS-MONTES
“Quais embaixadores, os
transmontanos presunto, vitela barrosã, alheira e a famosa bola ou folar de
carnes, atravessaram o Marão para se imporem na Páscoa portuguesa, de Norte a
Sul, e acertar negócios em prol da sua abençoada Terra.”
[Maria de Lurdes Modesto]
Ex-libris
do concelho de Valpaços a ponto de dar o cognome “Valpaços, a terra do Folar” à
cidade e com direito a feira própria no fim-de-semana de Ramos, o Folar de
Valpaços é presença obrigatória à mesa dos locais, no dia de Páscoa - ainda que
não se considere um produto sazonal, podendo ser consumido por valpacenses,
forasteiros ou emigrantes durante todo o ano.
Confecionado
com farinha, ovos (muitos, pois dizem uns que se levar ovos até ficar amarelo é
“folar” e não “bola”), gordura (manteiga, banha e azeite), fermento de padeiro,
frango corado, salpicão, presunto, chouriço de carne / linguiça e salsa, o
Folar de Valpaços é assim uma espécie de bolo sem açúcar e com carnes. Diz-se
que a carne gorda deve ser sempre incluída para deixar o folar macio. Tradicionalmente
é cozido em forno de lenha, em formas de barro ou de argila, que lhe dão
textura e sabor particulares. Há quem diga que a temperatura ideal para colocar
os folares é quando a entrada do forno está toda branca à volta da porta.
Colocam-se, então, os folares no forno, pincelados por cima com gema de ovo, ao
que em algumas aldeias do concelho chamam “burnidos”. Este ritual é registado em
maior número na Sexta-feira Santa ou no Sábado de Aleluia. Há quem espere pelos
familiares vindos de vários pontos do país ou do estrangeiro para pôr mãos à
obra. Outros juntam-se aos vizinhos de todo o ano e em fornos particulares vão
cozinhando o “pão da Páscoa”.
Preferencialmente
deve ser consumido fresco e na região é costume comer-se acompanhado de uma
púcara cheia de café, café com leite ou vinho.
A
tradição do folar tem como base todo um ritual de partilha, solidariedade e
confraternização, bem enraizado na gastronomia popular que se perde no tempo e
profundamente carregado de significado simbólico e religioso. Existe neste acto
uma ligação muito forte entre este e o pão que Jesus repartiu com os discípulos
na última ceia. Em tempos remotos, o ritual do Folar iniciava-se quando o
afilhado levava o “Ramo”, na missa do Domingo de Ramos para aí ser benzido.
Depois, no Domingo de Páscoa, o afilhado entregava o “Ramo” ao Padrinho com a
saudação: -“Dê-me a sua bênção, meu Padrinho”. Este estendia a mão para ser
beijada e respondia: -“Deus te abençoe” e entregava o Folar, que tanto podia
ser em dinheiro como em pão pascal. Com o passar do tempo, o pão pascal passou
a ser designado, apenas, por Folar.
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