FOLARES LAGARTO | CASTELO DE VIDE
“A Páscoa
é, pois, uma época característica de presentes cerimoniais, nomeadamente de
natureza alimentar, os «folares».”
[Ernesto Veiga de Oliveira]
Na
região de Portalegre, Castelo de Vide e Marvão, na Páscoa, para além dos bolos
fintos e folares, fazem-se também os Folares Lagartos que é um folar em forma
de lagarto, os olhos são dois feijões, no pescoço coloca-se um laço e na boca,
o ovo.
Confecionados
com farinha, fermento de padeiro, fermento em pó, manteiga, banha, erva-doce,
ovos, leite e sal, são depois decorados com ovo cozido com casca de cebola para
que a casca do ovo fique acastanhada, amêndoas de Páscoa para colocar ao longo
do corpo do lagarto, feijão-frade para os olhos, fita colorida para o pescoço,
ovo batido e calda de açúcar.
Como
todos os folares, os Folares Lagartos da vila alentejana de Castelo de Vide fazem
parte dos alimentos de festa que vêm pôr fim às privações e jejuns da Quaresma.
Estes Lagartos são ainda tradicionalmente oferecidos na Páscoa pelos padrinhos
aos afilhados, ou entre compadres / comadres.
O
lagarto é símbolo do Sol e da Luz, aquele que busca conhecimento, Deus, a outra
vida (e Páscoa é sinónimo de renascimento). A inclusão do ovo neste e na
generalidade dos folares, especialmente do centro e sul do país, representa a
fecundidade e a abundância – a renovação periódica da natureza.
Os
rituais da Páscoa, a gastronomia, a onomástica da população local são
testemunhos vivos da importância que a comunidade judaica chegou a ter na
região de Castelo de Vide nos finais do século XV. No caso do Folar Lagarto,
habitualmente de tamanho pequeno, tem a forma do animal com dupla significação:
para divertir as crianças afilhadas e para proteger as famílias judias desta
região, das perseguições religiosas, partilhando-se um bolo em forma de
lagarto, justamente um réptil que os judeus abominam.
Os
bolos da festa como os Folares Lagarto são consumidos à sobremesa do almoço do
Domingo de Páscoa.
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