CHANFANA | BEIRA LITORAL


 

“(…) comíamos carne de cabra de manhã, ao meio-dia, à noite.” (Aquilino Ribeiro)
 

A Chanfana é um prato típico da Beira Litoral, muito apreciada e servida em muitos restaurantes a partir da segunda metade do século XX, designadamente dos concelhos de Miranda do Corvo (conhecido como a capital da chanfana), Penacova, Vila Nova de Poiares e Coimbra – ainda que com algumas nuances, como por exemplo, o facto de a carne utilizada na chanfana em Coimbra nem sempre ser de cabra velha, mas também de borrego.

Nesta região beirã constitui um prato “obrigatório” em festas religiosas, casamentos (onde é chamada a “carne de casamento”), sendo um factor extremamente importante a sua cozedura. Cozinhada em caçoilos de barro preto locais que vão ao forno de lenha cerca de 4 a 5 horas e lá ficam mais algum tempo para apurar bem (geralmente até serem consumidos no dia seguinte, reaquecidos), são ingredientes a carne de cabra, vinho tinto, banha de porco, azeite, colorau, louro, alho, cebola, sal e piri-piri, tudo acompanhado de batata cozida com pele.

Uma lenda refere que a Chanfana terá surgido no Mosteiro de Semide, concelho de Miranda do Corvo. Até finais do século XIX e durante o mês de Agosto até ao dia de S. Mateus, o Mosteiro recebia dos moradores do seu couto os respectivos foros: galinhas, vinho, azeite, cabras, ovelhas, dias de trabalho. Como no Mosteiro não existia capacidade para manter os animais recebidos, as religiosas passaram a cozinhar a carne, aproveitando o vinho que também lhes era entregue e o louro, alhos e demais ingredientes que já cultivavam na sua quinta. Terá surgido assim a Chanfana, que era (religiosamente) guardada ao longo do ano nas caves frescas do Mosteiro, já que a carne assada no vinho mantinha-se no molho gorduroso solidificado, durante largos meses.

Outra versão justifica que as monjas terão inventado o prato com os ingredientes recebidos das rendas, para evitar que com as invasões francesas lhes fossem saqueados os rebanhos e como os franceses tinham envenenado as águas, utilizaram vinho na confeção. Outros registos defendem que quem envenenou as águas foi a própria população de terras de Miranda do Corvo e da Lousã, igualmente para matarem os franceses e com a água imprópria para cozinharem as carnes que habitualmente consumiam (cabra e carneiro), começaram a cozê-la em vinho.

Há ainda os que advogam que os franceses excluíam dos seus saques na zona os animais velhos, pois eram muito duros para comer e estes eram aproveitados pelo povo para consumo, pelo que esta será outra explicação para o surgimento da chanfana.

Lendas à parte, nos dias de hoje outros dois pratos resultam, unicamente em Miranda do Corvo, do aproveitamento de restos da Chanfana: a “Sopa do Casamento” e o “Negalho”, este confecionado com as vísceras da cabra.

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